A dita “revolução” era, nem mais nem menos que o movimento de 28 de Maio de 1926 o que, para os meus verdes quinze anos, nesse ano em que comecei a trabalhar para a Função Pública, tinha o mesmo significado que a batalha de São Mamede, a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o envenenamento de Viriato, o desastre de Alcácer Quibir, ou outra coisa qualquer que referiam os livros escolares mas se passaram muito antes de eu ter nascido. Ou seja: não significava absolutamente nada… Só tinham, então, passado 28 anos desde que Gomes da Costa saíra de Braga, à frente de uma centena de militares.
Agora, passaram 38 anos desde que Salgueiro Maia enfiou Marcelo Caetano num Chaimite para lhe dar um bilhete de ida sem regresso para terras de Vera Cruz.
Isso quer dizer que, para metade dos portugueses, a Revolução dos Cravos é qualquer coisa tão longínqua como a batalha de Alcácer Quibir ou a corda ao pescoço dos filhos de Egas Moniz.
Por isso, não admira que as cerimónias tenham perdido fulgor e que até o Chefe do Estado se tenha esquecido que, se não tivesse sido esse momento mágico em que a censura e a Pide deram lugar a uma liberdade tal que até permitiu que Cavaco Silva seja hoje Presidente da República. Um Presidente que odeia cravos.
O mesmo Presidente que há pouco mais de dois meses, se insinuava como sendo de centro-esquerda, perante a troça e a irritação dos candidatos de esquerda. Adiante!
Os discursos surpreenderam. Pela vacuidade. Todos eles. Para além de uma espécie de radicalização à esquerda de militares, Soares e outros menos “descarados”; para além do anúncio por parte dos socialistas, de uma próxima (?) ruptura democrática (que raio é isso?) o que se viu foi o empobrecimento do discurso político, sem ideias, sem propostas de qualquer orador. Espantou a fuga à referência aos verdadeiros assuntos que interessam ao esburgado povo português, por parte de Cavaco Silva, que se esqueceu que, no ano passado, “avisava” que este povo estava no limite dos sacrifícios e preferiu, este ano, fazer uma “oração de sapiência” sobre banalidades: sobre o "compromisso cívico para a inclusão social" (importa-se de repetir?), sobre a necessidade de “coesão do país”, sobre o valor dos portugueses no reconhecimento internacional das capacidades lusas, sobre sermos “credíveis” lá fora e sobre… cultura.
Cavaco não tinha mais nada para dizer? Não tinha avisos para fazer? Um discurso daqueles, qualquer aluno do “secundário” era capaz de escrever! Com a mesma inutilidade de palavras.
Mas hoje nem tudo foi mau. Pelo menos, a TVI prestou um bom serviço ao país, ao apresentar meia dúzia de questões a alguns “deputados da Nação” que revelaram um profundo desconhecimento sobre a História contemporânea e sobre o significado da Revolução de Abril. Fico a pensar: será que sabem ler e escrever?
Obrigado, TVI, ficámos a saber quem são os “marmelos” que, em troca de chorudo vencimento, fazem as nossas leis e traçam os caminhos do nosso futuro!
E.G
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O Ocidente não tem emenda. Durante séculos e séculos determinou, para si mesmo, que os modelos que pratica são exemplares, ética e moralmente irrepreensíveis e, evidentemente, “superiores” – logo, deverão ser seguidos por todos os povos do mundo.
O Ocidente continua, mentalmente, na Idade Média, na convicção de que os mentores ocidentais ditam as normas correctas e incensuráveis.
Também parte deste mesmo Ocidente estagnou no período das “descobertas”, assumindo-se como colonizadora de bárbaros e infiéis.
Pese embora a evolução das ideias e a modernização da filosofia, muitos enquistaram nas suas posições de colonizadores.
Portugal tem uma Constituição que (teoricamente) respeita as diferenças, os credos, as tradições de todos. Inclui-se – depreende-se – o respeito pelas soberanias dos Estados.
Teoricamente, disse eu. É certo que o Zé Povinho, se não se está borrifando para o que se passa lá fora, pelo menos, encolhe os ombros num pensamento simplório: “isso é lá com eles”. Mas nem todos são assim, e acham que devem meter o bedelho na vida do vizinho.
Paulo Portas, que se saiba, nunca percebeu nada de África nem das suas idiossincrasias. Para ele, “pretos são pretos” e nós, os “civilizados” temos a obrigação de impormos, aos países africanos, os nossos padrões morais e éticos.
Claro que os “pretos são pretos”. E devem ter orgulho em ser. Claro que a ética dos “pretos” é uma ética diferente da dos ”brancos”. E aqueles têm o direito de escrever os seus princípios éticos, mesmo que estes se não compaginem com os da moral judaico-cristã.
Mas Portas, como muitos outros “brancos”, particularmente os que ocupam lugares governativos, não percebeu ainda isso. Portas entende que deve assumir o seu “nobre” papel de colonizador.
Perante isso, Portas decidiu perorar: que, perante o golpe de Estado na Guiné, devemos (o Ocidente, ou os portugueses?) enviar uma força militar para obrigar os guineenses a aceitar os “nossos” padrões.
Ele sabe lá qual tem sido o papel do “poder legítimo” no tráfico da droga na Guiné-Bissau?! Sabe lá, na sua desmedida ignorância, quais os princípios morais e religiosos dos que se opõem à prepotência das chefias militares da Guiné?! Ele sabe lá o que é viver atascado na bolanha, ser vítima da malária ou parasitado pelas matacanhas!?...
Saberá ele mesmo o que é a Guiné? Deixe-se de asneiras! Deixe que os próprios resolvam os seus problemas, desde que não violentem os direitos do seu povo dócil e pacífico. Com certeza que Portas nunca viu o filme "Os deuses devem estar loucos".
Meta-se na sua vida, senhor Portas, já que, pelo que parece, entende muito é de… negócios de submarinos!
Parece, porém, que os guineenses souberam dar-lhe a resposta que ele estava "mesmo a pedir": “Qualquer força estrangeira seria considerada força invasora”, ou seja, “quem vier por mal, será tratado como inimigo”.
O amor-próprio tem ainda valor; mesmo na Guiné Bissau. Pelos vistos, os “pretos” têm mais dignidade do que os que andam, de mão estendida e lágrima de crocodilo, a pedir esmola, quer seja à Comunidade Europeia, quer seja ao Brasil, a Marrocos, à Venezuela ou até a Timor. Como faz Portas e o governo que integra.
E.G
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Teria feito ontem setenta anos. Poupou-lhe o destino o infortúnio de ter de assistir ao derrubar dos sonhos. Adriano ficou na nossa memória; como ficaram as palavras das suas trovas de esperança num porvir melhor.
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O governo, em segredo, montou uma armadilha aos funcionários, num estilo inaudito que nem lembraria ao antigo regime, ao aprovar um diploma que suspende as reformas antecipadas aos trabalhadores da função pública.
Não negociou, não ouviu os representantes dos trabalhadores. Nada! Pela calada, em vésperas das festividades da Páscoa, ofereceu essas amêndoas aos que nem tiveram tempo de esboçar um gesto de defesa. A monstruosidade foi publicada em Diário da República, em 5 de Abril, para entrar em vigor no dia seguinte, que foi feriado.
Vamos num bom caminho, não haja dúvida! No túmulo, o ditador de Santa Comba deve estar a rebolar-se de gozo.
O Presidente da República nem pestanejou: promulgou o diploma durante um fim de semana que ficará na história como um dos golpes mais baixos da democracia (?) portuguesa.
Perante o bruaá, Passos Coelho, em passeio por Moçambique, justificou-se: que teve de o fazer em segredo para que aqueles que fizeram os seus descontos, alguns durante mais de quarenta anos, não pudessem recorrer a um direito que lhes assiste e afirmou que "desde logo (afirmou) que a reposição desses subsídios seria gradual na medida das condições macro económicas" pelo que a restituição desse direito não poderia fazer parte do Orçamento de 2014. Claro, as condições macro económicas são as que lhe convierem a ele e ao seu governo de anedota. (Ai, Santana Lopes, volta à liderança PSD; estás perdoado).
Numa afirmação tão estúpida como a medida (roubo) tomada, o primeiro ministro disse que, se anunciasse que iria repor os subsídios no ano seguinte, passaria uma "imagem precipitada" de Portugal para o exterior.
Quem disse que o Estado é uma pessoa de bem? Os estrangeiros? É que cá já se percebeu que estamos a ser vítimas de um estado canalha, que martiriza apenas quem não tem dinheiro nem influências para lhe fazer frente.
Fortemente criticado pela sua inqualificável atitude de cúmplice da canalhada, também o Presidente da República veio justificar a promulgação do diploma com "razões de interesse nacional". Mas sublinhou que o acto de promulgação não implica concordância com todas as normas dos diplomas.
Numa época pascal, até Pilatos lavou as mãos! Disse o presidente eleito por 20% dos portugueses que o governo lhe deu todas as informações que solicitou e que, perante as razões de “interesse nacional” que lhe deu Coelho, entendeu que “não devia obstar à entrada em vigor do diploma", acrescentando que "todos os constitucionalistas reconhecem que o acto de promulgação não significa o acordo do Presidente em relação a todas as normas de um diploma".
Não é tão cândido?!
E.G
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Há dias, o comentário de um leitor despoletou em mim uma série de pensamentos que, latentes, poucas vezes, claramente, tive oportunidade de exprimir.
Falávamos de Democracia, de Esquerdas, de Direitas, coisas assim. E, das generalidades, fui deixando descair o pensamento para a realidade portuguesa, para a dita crise, causa e desculpa para os males que nos afligem e de que, acima de tudo, são responsáveis os incompetentes que temos tido por governantes.
Mário Soares nunca, como se diz na minha terra, foi tipo que “deitasse grãos na minha panela” até porque a nossa relação foi tremenda e definitivamente afectada por episódio de natureza pessoal. Mas tenho de admitir que foi o último governante que, talvez por ter consciência das suas limitações técnicas, foi capaz de reunir à sua volta gente capaz para formar governos. Reconheça-se: era – e é – um “animal político”.
Depois dele… foi o que se tem visto. Apenas Guterres teve a lucidez de perceber que Portugal, a sua economia e as suas finanças se tinham transformado num “pântano”. Cobardemente, porém, abandonou o barco, legando-lhe a estupidez da “terceira via” do seu amigo Blair, e deixando-o à mercê de outros incompetentes, cuja ignorância e atrevimento tem raiado a imbecilidade.
Queira-se, ou não, Cavaco foi o grande coveiro: prometendo que, no fim do seu mandato, todos os lares portugueses teriam o “seu frigorífico”, acabou com a frota pesqueira, permitiu, alegremente, que a agricultura se tornasse num factor residual, enquanto o dinheiro que jorrava da cornucópia europeia, se escoava para off-shores, pelas mãos de capitalistas, exploradores, oportunistas, amigos e correligionários.
Depois… Bom, depois, foi a aceleração que a física justifica como fenómeno incontestável em qualquer rampa descendente. Nem vale a pena falar em nomes; ou vale: todos! Barroso, outro “fujão”, Santana, um play-boy vazio de sentido e pensamento, Sócrates, o mentiroso casmurro e finalmente, a cereja em cima do bolo, o actual Coelho, super mentiroso, que - sabe-se lá quem - tirou da cartola onde se guarda todo lixo imprestável, uma espécie de síntese de tudo o que aconteceu desde que Cavaco foi fazer a rodagem a um automóvel à Figueira da Foz.
Mas a crise não é de natureza global? Então por que raio não atinge a Suécia, a Noruega, a Dinamarca?... A explicação é simples: são países que têm tido governantes a sério, a pensarem “futuro”, preocupados com o desenvolvimento da economia, sim, mas, sobretudo, com o desenvolvimento dos seus povos!
Portugal enferma duma espécie de caruncho em que a sociedade, cada vez mais complexa, se sente afastada, inexoravelmente, dos partidos políticos, os quais se enquistaram nas suas práticas que recusam abandonar; que não mudam – nem analisam – as suas praxis e as suas filosofias e que se enroscam em pensamentos que deveriam estar ultrapassados, em estratégias que nem a eles servem; em jogos de bastidores onde apenas se procuram encontrar “tachos” e segurança.
O povo? Que se lixe! O país? Querem lá saber! O importante é que a “massa”, o “cacau”, o “pilim” engrosse as suas contas bancárias e, já agora, importa-lhes o poleiro onde possam espanejar, ao sol, as suas penas de pavão.
A esquerda portuguesa é uma manta de retalhos. O seu pensamento estagnou; mesmo quando fala em desenvolver políticas de crescimento sente-se que, salvo raríssimas excepções que poucos escutam, não entende que as políticas de crescimento só fazem sentido quando acompanhadas das políticas de desenvolvimento humano. A esquerda lambe as suas feridas e acha que a culpa é sempre dos outros, dos que lhe deveriam estar mais próximos ou dos têm pensamentos de sinal contrário.
A direita está no poder. Com maioria absoluta, chefiada por uma marionete que agora diz uma coisa para logo dizer o seu contrário, com um ministro de finanças que se preocupa apenas em cobrar as contas de mercearia, enquanto vai esburgando todas as possibilidades de as classes média e baixa irem satisfazendo as suas próprias aquisições básicas. E, quotidianamente, enfia-lhes as mãos nas algibeiras à cata mesmo da mais pequena moedinha.
Enquanto isso, e porque se fala em mercearias, manda-se o ministro da economia ao Algarve… inaugurar uma mercearia em Vale do Lobo! Hélas!
E.G
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