Recordo-me doutros tempos, felizmente já idos, em que um dos meus superiores hierárquicos, homem do «governo da nação», entendia que um corpo de inspecção devia funcionar como uma «matilha de mastins».
Sabem os meus leitores que o mastim é um cão de guarda, pesado, ossudo, um molosso forte, persistente, de corpo rijo e musculoso, tórax amplo, cabeça maciça, quase sempre atemorizante – e com razão, já que este tipo de cão ataca de modo fulminante, subjugando o inimigo com facilidade, tornando difícil a sua reacção.
O seu pescoço vigoroso e a cabeça de meter respeito, a sua enorme boca, dotada de dentes capazes de triturar ossos com a maior facilidade, transformam estes animais numa potente e temível arma de defesa/ataque.
Uma vez lançados nos seus propósitos, os mastins dificilmente se detêm sem que, previamente, tenham aniquilado o inimigo. Tanto, que estes molossos eram usados pelos romanos e pelos gregos como máquinas de guerra e, na arena, para combater com leões ou ursos pardos.
Era assim que aquele governante queria um corpo inspectivo: capaz de aniquilar aqueles que viesse a considerar como «inimigos a abater» - os subordinados.
Vem esta longa introdução para referir a forma «mastinesca» como, hoje, a imprensa persegue e aniquila pessoas, de forma bárbara, cruel, impiedosa, geralmente com segundas intenções e pondo isso ao alcance de uma opinião pública formada nas «escolas» da revista Maria, do jornal do Crime e das páginas sensacionalistas de outros jornais e pasquins, portanto, uma opinião apta a adoptar as touradas como forma da sua própria «civilização», uma opinião influenciável e bestial.
A imprensa actual não pretende formar, prefere informar (?) e dar o espectáculo do mastim a farejar e destruir as suas vítimas: quanto mais sangue, quanto mais perversidade… melhor! Não lhe importa que as causas sejam menores, ou que sejam, mesmo, infundadas. Fazer sangue é o seu objectivo. Não lhe basta cravar a bandarilha ou o estoque, sente necessidade de revolver a ferida até que a vítima estrebuche ou urre de dor.
Está na nossa memória a forma como os mastins se lançaram sobre Sócrates, quando primeiro-ministro: ora porque não tinha arte para projectar casas rústicas; ora porque, após o seu divórcio, vivia no mesmo prédio onde residia um actor homossexual; ora porque no seu ministério havia suspeitas de que, para aprovar a construção de um centro comercial, teria havido «luvas» e, quem sabe? até talvez essas luvas lhe tivessem mesmo aquecido as mãos e algibeiras; ora porque a data do seu diploma de licenciatura correspondia a um domingo… O que era preciso era fazer espectáculo bárbaro, circense; sentiam necessidade de sujar, chafurdar, misturar-lhe o sangue no barro dos caminhos. Se havia razões? Talvez não, mas não importava, já que os mastins iam conseguindo o que pretendiam: vender papel ou entreter telespectadores, rasgando, com os caninos, o corpo, a alma, a reputação de um homem.
Afastado o homem, os mastins buscam outros alvos. Relvas e as suas equivalências caíram que nem sopa no mel. Passa ele a ser o alvo da matilha: fez só um exame? Canalha! Professores da universidade que lhe outorgou o diploma ocupam agora altos e chorudos cargos? Malandro do Relvas! Vamos cravar-lhe o estoque, vamos ao sangue! O homem é capaz, é competente? Que lhes importa se tem capacidade de trabalho ou iniciativa ascendente sobre o governo tíbio que está ao leme de um país ingovernável?
Nada interessa aos mastins, para além de revolver a ferida até que a vítima urre de dor. A seguir ao diploma, outra coisa «repugnante» surgirá. Quem sabe? talvez, na escola primária, o Relvas tenha «bifado» um berlinde ao companheiro de carteira… ou talvez tenha, no meio da confusão, quando adolescente, passado a mão no traseiro de uma colega do liceu… O sangue haverá de espirrar por isso.
Mais perto de nós, já há alternativa para quando o «assunto Relvas» estiver na gaveta: chama-se Macário! Quem é este «não fumador» que ousou concorrer e ganhar a câmara de Faro? O autarca tavirense que mais contribuiu para a construção de habitações sociais e mudou a face da sua cidade natal? O presidente de câmara que é o primeiro a chegar ao local de trabalho, que cumpre horários, que é capaz de coordenar, com singeleza e bom senso, o «corpo municipal» e que está sempre pronto para escutar cada um dos cidadãos?
Não, isso são ninharias! O que lhes importa é se ele permitiu a construção de um lar num terreno inculto e improdutivo mas que é considerado apto para agricultar. O que lhes importa é que ele tenha permitido transformar um inútil tanque de rega numa piscina. Isso, sim, é motivo para os mastins atacarem. Vamos ao sangue! Vamos a ele, vamos roubar-lhe a tranquilidade, destruir-lhe a reputação, rasgar com os caninos ferozes, as feridas que lhe façamos, até que a vítima urre de dor.
Quem é o senhor que se segue? A quem irão os mastins misturar o sangue no barro dos caminhos?
Væ victis!* - que o mesmo é dizer: ai de quem seja perseguido pelos mastins! Que «pequeninos» somos!
* loc. lat. – Ai dos vencidos!
E.G
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