Anteontem, o Presidente da República, à laia de aviso ao governo, a semanas da apresentação do Orçamento do Estado, veio «alertar», com toda a prudência e falta de clareza a que já nos habituou, que a carga fiscal não pode sobrecarregar mais os portugueses e que os que já estão muito «esmagados» não o devem ser novamente.
À laia de resposta (ou desafio?), o primeiro-ministro, desrespeitando o acórdão do Tribunal Constitucional, que exige equidade nas medidas de austeridade, veio atirar ao rosto dos portugueses um rol de incríveis regras de maior austeridade, que desobedecem ao Tribunal, cometendo, a meu ver, não só uma inconstitucionalidade contrária à ordem, à moral e à razão, mas uma incrível desobediência civil e criminal, pelo que deverá ser responsabilizado.
Infelizmente, há dezenas de anos que o Estado deixou de poder ser considerado «pessoa de bem» e, assim, já ninguém estranha que o governo continue a «castigar» os mais débeis, a começar pelos funcionários e os restantes trabalhadores, proletários ou não, e a terminar nos pensionistas e reformados, num desprezo total pelos cidadãos. Todos, não: nas grandes fortunas, nem sequer se belisca e os capitalistas que fugiram com o dinheiro para paraísos fiscais, serão perdoados perante uma ridícula «multa» de 7,5%, quando os operários e funcionários vêm os seus impostos agravados, ao serem penalizados com um IRS imoral e, agora, para além do esbulho dos subsídios de férias e de Natal, com um aumento de 7% do seu vencimento bruto para a Segurança Social e para a Caixa Geral de Aposentações, para as quais passarão da descontar quase um quinto do seu vencimento (um imposto disfarçado), enquanto as grandes empresas aforrarão muitos milhões, deixando de contribuir para a S. Social, à custa desse aumento sobre os trabalhadores.
Já bastavam estas incríveis medidas de «equidade à la coelho» (equidade que castiga os reformados retirando-lhes - roubando? - os dois subsídios que lhes são devidos) para nos deixar mais que preocupados até porque não se percebe o que se passará nos crânios iluminados que nos governam, quando falam em recuperação económica, ao mesmo tempo que reduzem drasticamente, até aos limites do incrível, o poder de compra da população. Mas Coelho tinha ainda de ferir-nos com o ar displicente e impertinente como se apresentou, perante as câmaras de televisão para anunciar as «suas» medidas.
Provavelmente, algum dos seus conselheiros que pastam nos mesmos… relvados, o alertou para o despropósito e o «Pedro» decidiu «explicar», no seu facebook, que o discurso que fez “não era o que gostaria de poder nos dizer” e, reclamando-se cidadão e pai, «o Pedro» disse ainda que sentia “a frustração de não poder poupar-nos a estes sacrifícios”.
Entretanto, o oportunista Seguro exultou: Coelho deu-lhe, de mão beijada, a oportunidade de se desobrigar de deixar passar o Orçamento, ao mesmo tempo, que lhe veio abrir a porta para que a sua própria incompetência possa vir a substituir a incompetência de Coelho.
O jornal «Correio da Manhã», nunca caiu no meu agrado, já que o jornalismo» tipo «jornal do crime», «hola» ou «sun» se tornam repelentes à minha sensibilidade jornalística.
Mas, desta vez, venho dar a mão à palmatória e agradecer efusivamente a esse jornal o serviço que prestou aos portugueses, ao publicar a foto que acima se reproduz.
Passos Coelho acabara de chocar os portugueses com as medidas anunciadas e com a forma fria e displicente com que as anunciou e foi logo de seguida, a correr, com a sua mulher, para o concerto de Paulo de Carvalho, onde exteriorizou, com aquele ar que deve reflectir a sua dita frustração e o seu desgosto por aquilo que nos disse – tristeza que se pode apreciar no «semblante carregado» com que entoou a «Nini dos 15 anos».
A hipocrisia tem destas coisas: por vezes, denuncia-se a si própria! Razão teve hoje Jerónimo de Sousa quando, no encerramento da festa do Avante, afirmou que Passos Coelho pode dizer que está a tratar dos futuros dos filhos – dos dele, não dos nossos.
E Cavaco que vai agora fazer? Assobiar para o lado depois de Coelho fazer orelhas moucas aos seus… «conselhos»?
Ah! E esperem por aquilo que ainda o nosso homem tem para apresentar no Orçamento!...
E.G.
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