Num carrocel de loucos, passaram dez ou doze dias desde que Coelho decidiu cantar a «Nini dos meus quinze anos». Perdão: desde que decidiu anunciar mais um pacote de duríssimas medidas sobre os contribuintes pobres, trabalhadores e reformados.
Uma deles trazia atrás de si a semente de uma revolução: o aumento da Taxa Social Única.
A mim, a coisa fez-me torcer o nariz, porque nunca acreditei que esse anúncio fosse para ser tomado a sério - ninguém ia deixar. Coelho também sabia que não seria a sério. Se assim não fora, por que raio haveria de ter vontade de cantar a «Nini», logo a seguir?
Como se previa – e Coelho deveria sabê-lo melhor que ninguém – o Zé-povinho saltou para a rua. Ordeiramente, como sempre, graças a Deus, já que esse mesmo Deus, no dia da distribuição do sentimento de indignação, já deveria estar cansado de caminhar por esse mundo fora e, ao chegar às faldas da Serra da Estrela, já só trazia umas migalhas de tal sentimento que por ali deixou cair, à espera que um qualquer Viriato as apanhasse e gastasse.
Um décimo dos portugueses saiu, pois, à rua, entoando «A Portuguesa», agitando escassas bandeiras e cartazes onde a palavra «gatunos» era o escudo mais visível.
O Presidente e o governo fingiram surpreender-se; o primeiro convocou um Conselho de Estado para dar azo a que Coelho viesse informar que “foram ultrapassadas as dificuldades que poderiam afectar a solidez da coligação partidária que apoia o Governo" – conforme se lê no comunicado divulgado após uma reunião de quase oito horas.
Soares que, na experiência dos seus quase noventa anos, percebeu a fachada da marosca, foi o único que, ao fim de duas horas, deixou a falar sozinha a «brigada do reumático» - como lhe chamaria Louçã -, já que o final estava mais que previsto: decidiria sobre “a importância crucial do diálogo político e social e da procura de consensos, de modo a encontrar soluções, tendo em conta a necessidade de cumprir os compromissos assumidos”, como reza o citado comunicado.
No fim, Coelho tinha decidido (tinha?) que iria estudar forma de substituir as verbas «perdidas» na sua marcha atrás sobre a TSU. Pois! imagina-se: não seremos sacados do bolso das calças, seremos no bolso do casaco!...
Entretanto, durante estes dias, falou-se, pisou-se e repisou-se o tema «TSU». Enquanto isso, ninguém ou quase ninguém recordou que o desemprego se aproxima rapidamente dos 20%.
Ninguém ou quase ninguém falou nas outras medidas que Passos anunciou antes de ir cantar a «Nini»: o governo vai manter corte de um dos subsídios dos funcionários, vai repor o outro distribuindo-o por 12 meses de salários, amplia os seus descontos para a CGA para 18%. Ou seja, os funcionários continuam a receber menos dois salários anuais e pagarão ainda mais impostos. Ninguém se revoltou só porque o imposto pago pelos contribuintes aumentará, em média, 3,5%; quase todos calaram que os novos escalões do IRS vão sacar, em média, mais meio salário.
Quanto aos pensionistas, a quem igualmente lhes aumentam os impostos, continuarão a ter o corte dos dois subsídios até ao final do programa de assistência. Uma «excelente» solução encontrada pelo governo para contornar a decisão do Tribunal Constitucional, que declarou inconstitucional - por violação do princípio da igualdade - o corte dos subsídios de Natal e de férias para a Função Pública e pensionistas.
Logo a seguir ao anúncio destas dolorosas notícias, o ministro das Finanças veio dizer que serão anunciadas "medidas temporárias" para 2012, para além das que já foram apresentadas.
As pessoas saíram à rua por causa da TSU; as restantes medidas parece terem ficado esquecidas. Por isso, pergunto: será que era isto que Coelho pretendia? Que as pessoas «perdoassem» o resto?
Depois do Conselho de Estado de ontem, parece que tudo voltou à mesma: Passos Coelho vai fazer as experiências que der na gana do ministro das Finanças; os sindicatos vão continuar a preparar uma greve geral e as manifs que forem precisas, Louçã vai continuar com o seu humor corrosivo a achincalhar Coelho, Portas, Gaspar, Álvaro ou Relvas; o Partido Comunista vai prosseguir com a sua pedagogia repetitiva e Seguro vai continuar a fingir que é «mau», que o PS está unido e que tem soluções para o país.
Mas a verdade é que é extremamente urgente que se travem as estúpidas medidas de austeridade que são, sobretudo, verdadeiro assédio à própria dignidade do pobre.
A crise que atravessamos é de valores, é de lideranças. É uma crise que se caracteriza pela prevalência dos critérios financeiros sobre os próprios critérios de economia e sobre os critérios sociais.
Em cada dia que passa, está, inexoravelmente, a agravar a insegurança das pessoas, a nível social e psicossocial.
O futuro não é risonho. Não temos por onde escolher. Ou, melhor, a escolha é de incertezas.
Não sei se surgirão pessoas ou grupos capazes de fazer o que é preciso: gente que seja capaz de ignorar o fado, o fatalismo dos que acham que não há nada a fazer.
Há! Porque, neste país, agora está tudo mal; e quando tudo está mal é quando se pode fazer alguma coisa.
E.G.
Todas as fotos foram retiradas da Net, sem indicação da sua autoria
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